Moisés: 'Quando os catarinenses se unem, qualquer obstáculo pode ser superado'
21/08/2020
Em entrevista, governador de Santa Catarina defende modelo de combate à
pandemia e destaca retomada econômica
Santa Catarina foi um dos primeiros do país a adotar medidas de isolamento
social, qual é a situação atual da evolução da Covid-19?
Carlos Moisés da Silva - O Estado faz um trabalho de atendimento e
prevenção para salvar o maior número de pessoas. Tão logo soubemos do
primeiro caso de transmissão comunitária estabelecemos medidas de
distanciamento social para que fosse possível achatar a curva de contágio.
Enquanto isso, reforçamos a infraestrutura e implementamos medidas seguras
para permitir uma retomada econômica com responsabilidade. Neste período,
nós mais que dobramos a capacidade de leitos de UTI SUS adulto, que antes
eram 547 e hoje são 1.183. Destinamos recursos aos hospitais filantrópicos
de aproximadamente R$ 10 milhões por mês além do pactuado. Além disso, o
povo catarinense compreendeu as medidas e agiu com responsabilidade. Quando
os catarinenses se unem, não há obstáculo que não possa ser superado. Isso
tudo foi fundamental para que Santa Catarina fosse considerado o Estado com
a melhor gestão da pandemia.
E como funcionou o diálogo com os municípios? Neste momento quem está com
as rédeas da situação: o Estado ou os municípios?
Moisés - Nesta fase atual, estamos fazendo uma gestão compartilhada com
municípios. Disponibilizamos às prefeituras a base de inteligência de dados
que utilizamos para monitorar a propagação do vírus em Santa Catarina. Essa
ferramenta apresenta dados oficiais, atualizados e monitorados em tempo
real para que as autoridades locais possam tomar medidas com embasamento
científico. Estamos aportando recursos e equipamentos para os hospitais. O
contágio da doença ainda é um desafio e, por isso, seguimos tomando
decisões que priorizam a vida. Mas também precisamos ter equilíbrio com as
ações econômicas.
O que o Governo fará para recuperar a economia no nosso Estado?
Moisés - Durante o primeiro ano de governo nos dedicamos a fazer a gestão
financeira do Estado e arrumar a casa. Alguns dizíam que iríamos atrasar a
folha, que não teríamos condições de investir. É a torcida do contra, que
de vez em quando aparece para atrapalhar. Mas tratamos de economizar
recursos, rever contratos e colocar as contas em dia em uma força-tarefa
que gerou o melhor resultado da década na prestação de contas do TCE. Hoje
é muito claro que tudo isso deixou o Estado muito mais preparado para
enfrentar a pandemia. Tomamos as medidas certas na hora certa e isso nos
permitiu a retomada das atividades rapidamente.
A classe empresarial foi incluída neste processo?
Moisés - Desde o início da pandemia mantivemos o diálogo com as lideranças
empresariais. No dia 20 de março, apenas três dias após as primeiras
medidas de isolamento, o Governo apresentou uma série de medidas para
ajudar os cidadãos e as empresas a fazerem a travessia nesse momento
difícil, com foco nas famílias de baixa renda.
Há indicativos de que isso surtiu efeito? Já existem sinais de retomada?
Moisés - Temos diversos indicativos. O Índice de Atividade Econômica
Regional calculado pelo Banco Central mostra que crescemos 4,8% em julho.
Nossa indústria teve um crescimento acima da média nacional pelo segundo
mês consecutivo, 9% em junho e 6,1% em maio. No agronegócio, tivemos
aumento da exportação de carne de frango, que faturou US$ 122,5 milhões em
julho, um crescimento de 24,5% em relação a junho. Também tivemos neste
primeiro semestre um saldo de novas empresas 11,8% maior que em 2019.
O desemprego no Estado preocupa?
Moisés - A economia de uma forma geral é uma preocupação hoje não só em
Santa Catarina, mas no mundo inteiro. Sabíamos que a pandemia aumentaria
índices de desemprego, mas mantivemos a menor taxa de desocupação do Brasil
e temos o menor percentual trabalhadores na informalidade. Seguimos
trabalhando firme para passar por esta crise da melhor forma possível.
Quais as ações que estão sendo implementadas para melhorar a infraestrutura
das rodovias estaduais?
Moisés - No início de 2019, o Estado estava com 70% da malha viária ruim ou
em péssimas condições, e trabalhamos para mudar essa realidade. O programa
Novos Rumos contempla a retomada ou início de obras de infraestrutura em
todas as regiões do Estado, com previsão de investimentos de mais de R$ 377
milhões, sendo boa parte desses investimentos com recursos próprios. Nos
primeiros seis meses deste ano, aplicamos R$ 42 milhões em diversas obras
por todas as regiões.
Qual sua avaliação sobre o desfecho da CPI dos Respiradores?
Moisés - Desde o início desse problema específico e pontual da compra dos
respiradores, chamei a Polícia Civil para que investigasse, determinei a
abertura de procedimento interno para apurar responsabilidades e orientei a
PGE a buscar o ressarcimento desses valores pagos antecipadamente. Mudamos
a cultura de jogar os erros para baixo do tapete. Isso não existe mais. Há
transparência. Quando a CPI foi instalada, imaginei que pudesse ser uma
aliada do Governo do Estado nesse esforço para apurar e corrigir, mas não
foi bem isso que vimos. O relatório final traz ilações desconectadas da
realidade, faz um contorcionismo argumentativo para envolver pessoas e
tirar a credibilidade do governo do Estado.
Alguns deputados cobram mais diálogo. Como você avalia essa cobrança?
Moisés - O conhecimento que os parlamentares têm das regiões é
importantíssimo. Conhecem detalhes de cada uma das demandas do cidadão. Eu
gosto de ouvi-los e usar as informações para direcionar as ações de
governo. Não tem nada mais produtivo para mim na política do que receber um
deputado para tratar de demandas das regiões.
Foto: Murici Balbinot/Arquivo
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